domingo, 30 de outubro de 2016

A afabilidade e a doçura


A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por detrás. A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: “Aqui mando e sou obedecido”, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: “E sou detestado.”
Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ademais, sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana. – Lázaro. (Paris, 1861.)

Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo: IX - Instruções dos Espíritos)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O Homem de Bem


O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem por ele.
            Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a sua permissão, e submete-se em todas as coisas à sua vontade.
            Tem fé no futuro, e por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
            Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.
            O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.
            Encontra usa satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros., antes que em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros, antes que dos seus. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa.
            É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos.
            Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele.
            Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Considera que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade alheia com o seu orgulho e o seu desdém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.
            Não tem ódio nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios. Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado.
            É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”.
            Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem a pô-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.
            Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera.
            Não tenta fazer valer o seu espírito, nem os seus talentos, às expensas dos outros. Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar a vantagens dos outros.
            Não se envaidece em nada com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.
            Usa mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial para si mesmo, que poderá lhes dar, é pô-los ao serviço da satisfação de suas paixões.
            Se nas relações sociais, alguns homens se encontram na sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. Usa sua autoridade para erguer-lhes a moral, e não para os esmagar com o seu orgulho, e evita tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna.
            O subordinado, por sua vez, compreende os deveres da sua posição, e tem o escrúpulo de procurar cumpri-los conscientemente. (Vercap.XVII, nº 9)
            O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes são assegurados pelas leis da natureza, como desejaria que os seus fossem respeitados.
            Esta não é a relação completa das qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las, estará no caminho que conduz às demais.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Relacionamentos Amorosos


Recebemos algumas  solicitações de auxílio para a compreensão dos motivos que os relacionamentos amorosos não estão “dando certo”, ou porque a pessoa está sofrendo a atuação ou ataque de espíritos trevosos ou obsessores.
As pessoas ao fazerem a explanação dos seus problemas, invariavelmente dizem não entender o porque das coisas, e ouvimos coisas do tipo:
· Há cerca de dois anos conheci e comecei a namorar um homem, que se diz apaixonado por mim, embora ainda casado, eu adoooro ele e não tenho problemas pelo fato dele ter família... não sou uma má pessoa, não quero fazer o mal pra ninguém... o que eu fiz pra merecer isto?
· Não consigo entender a implicância da minha mulher para que eu tome um chopp  com meus amigos num barzinho... eu sempre fiz isso... desde minha época de solteiro... por que ela insiste em me mudar???
Como é fácil colocar a "culpa" no outro, não é verdade? Como é fácil ver como “natural”, o que fazemos e como absurdo ou errado o que os outros fazem, não é mesmo?
         E me pergunto: como será que as pessoas que se relacionam com alguém casado se sentiriam se estivessem no lugar do cônjuge traído? Como essas pessoas que saem de casa para “tomar um chopp com os amigos”, abandonando os compromissos assumidos, se sentiriam se o seu parceiro ou parceira fizesse a mesma coisa?
         Sem dúvida, são todas pessoas “boas” que não “fazem mal a ninguém”, que só querem “viver em paz”, mas que também não fazem bem nenhum a ninguém. São apenas egoístas...  e presunçosas. Egoístas pois só pensam em seu próprio prazer e satisfação e presunçosas porque tem opinião demasiado boa e lisonjeira sobre si mesmos, imodestas, vaidosas.
         Será que elas acham que atitudes egoístas, presunçosas, interesseiras, escusas, envolvem apenas a si mesmas? Será que pensam que não atrairão companhias invisíveis que vibrem  na mesma faixa de interesses? Será que pensam que fazerem apenas o que desejam e sentem vontade não magoará ou desrespeitará ninguém?
         Obsessor só se aproxima de nós se houver algum tipo de afinidade. Não fazer o mal a ninguém não é garantia de mantermos espíritos trevosos longe de nós. Não é só ódio, revolta, raiva que atraem obsessor. Indolência, egoísmo, volúpia, desrespeito com o sentimento do próximo também atraem. E essas pessoas ainda perguntam o que fizeram para “merecer isto”. Procuram os terreiros de Umbanda, considerando tudo uma grande injustiça; quando não afirmam categoricamente que a esposa esquecida em casa, ou a mulher do seu amante está fazendo macumba! Como se os terreiros de Umbanda fossem “Tendas de Milagres” e tivessem obrigação de resolver os problemas que elas mesmas criaram.
         Aí ouvem um “sabão” da entidade que foram se consultar e ainda saem dizendo que o terreiro não presta... E coisas do tipo: “Vou lá naquele pai de santo que cobra” X “reais para desmanchar esse feitiço. Pago e me livro disto! Essa lengalenga de” orai e vigiai “não é pra mim pois não estou fazendo nada demais... só quero ter uma vida normal, poxa!”.
         É meu amigo (a)... Que pena que pense assim, pois o tal “pai de santo” vai certamente “resolver” o seu problema, atraindo mais desgraça para sua vida. Mas tudo bem, né? Afinal você só quer que a sua mulher cale a boca ou que o seu amante largue a mulher e família dele, não é mesmo?
         Caso você mude de idéia ou perceba que tudo ao invés de melhorar e se resolver, piorou e queira melhorar-se e tentar aprender a respeitar a importância de um amor na vida de todos nós, o respeito ao próximo, melhorar-se para ser um(a) bom(a) marido/esposa e pai/mãe de família, melhorar-se para poder realmente ser feliz, seja em qualquer aspecto de sua vida, lembre-se daquele terreiro onde uma entidade tentou lhe mostrar isso através daquilo que considerou um “sabão”, mas que na realidade foi apenas um convite para receber um auxílio, para ser uma pessoa melhor, caridosa, atenciosa, amorosa e não egoísta e interesseira. Onde a entidade tentou mostrar a você que embora você fosse o principal causador da sua infelicidade, havia uma chance de tudo melhorar ... haveria  um  preço, é verdade, mas que não era um preço a ser pago em dinheiro, mas sim em empenho pessoal seu, em dedicação e em humildade para reconhecer-se imperfeito.

         Lembre-se... Você foi um dia a um Terreiro de Umbanda, cuja proposta sempre foi e será de nos auxiliar a aprender a sermos humildes e caridosos. Nos amparando nos momentos de dor, mas também nos lembrando constantemente que somente através do respeito, da caridade e do amor conseguiremos ser pessoas melhores e felizes, proporcionando-nos oportunidades únicas de fazermos o bem a quem quer que seja, inclusive aquele(a) que julgamos ser quem está nos “atrapalhando”.

Mãe Iassan - Dirigente do CECP - Site Caboclo Pery 2008

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A lição dos Chuchus...



Dona Maria Pena, que era viúva do Raimundo, irmão do Chico, julgava que este era um
mão aberta. Não era muito crente do dar sem receber. E, certa manhã, em que, sobremodo, sentia a
missão do Médium, que muito estimava, disse-lhe:
— Chico, não acredito muito nas suas teorias de servir, de ajudar, de dar e dar sempre,
sem uma recompensa. Não vejo nada que você recebe em troca do que faz, do que dá, do que
realiza.
— Mas, tudo quanto fazemos com sinceridade e amor no coração, Deus abençoa. E,
sempre que distribuímos, que damos com a direita sem a esquerda ver, fazemos uma boa ação e,
mais cedo ou mais tarde, receberemos a resposta do Pai. Pode crer que quem faz o bem, além de
viver no bem, colhe o bem.
— Então, vamos experimentar. Tenho aqui dois chuchus. Se alguém aqui aparecer, vou
lhos dar e quero ver se, depois, recebo outros dois.
Ainda bem não acabara de falar, quando a vizinha do lado esquerdo, pelo muro, chama:
— Dona Maria, pode me dar ou emprestar uns dois chuchus?
— Pois não, minha amiga, aqui os tem, faça deles um bom guisado.
Daí a instante, sem que pudesse refazerse
da surpresa que tivera, a vizinha do lado
direito, também pelo muro, ofereceu quatro chuchus a D. Maria. Meia hora depois, a vizinha dos
fundos pede a D. Maria uns chuchus e esta a presenteia com os quatro que ganhara. A vizinha da
frente, quase em seguida, sem que soubesse o que acontecia, oferece à cunhada do nosso querido
Médium, oito chuchus.
Por fim, já sentindo a lição e agindo seriamente, D. Maria é visitada por uma amiga de
poucos recursos econômicos. Demorase
um pouco, o tempo bastante para desabafar sua pobreza.
À saída, recebe, com outros mantimentos, os oito chuchus...
E dona Maria diz para o Chico:
— Agora quero ver se ganho dezesseis chuchus, era só o que faltava para completar essa
brincadeira...
Já era tarde.
Estava na hora de regressar ao serviço e Chico partiu, tendo antes enviado à prezada irmã
um sorriso amigo e confiante, como a dizerlhe:
— “Espere e verá”.
Aí pelas dezoito horas, regressou o Chico à casa. Nada havia sucedido com relação aos
chuchus. Dona Maria olhava para o Chico com ar de quem queria dizer: “Ganhei ou não?”
Às vinte horas, todos na sala, juntamente com o Chico, conversam e nem se lembram
mais do caso dos chuchus, quando alguém bate à porta. Dona Maria atende.
Era um senhor idoso, residente na roça. Trazia no seu burrinho uns pequenos presentes
para Dona Maria, em retribuição às refeições que sempre lhe dá, quando vem à cidade. Colocou à
porta um pequeno saco. Dona Maria abreo
nervosa e curiosamente. Estava repleto de chuchus.
Contouos:
sessenta e quatro: Oito vezes mais do que havia, ultimamente, dado...
Era demais.
A graça, em forma de lição, excedia à expectativa, era mais do que esperava. E, daí por
diante, Dona Maria compreendeu que aquele que dá recebe sempre mais.

Livro: Lindos Casos de Chico Xavier
Ramiro Gama (1898 1981)